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Dicas Culturais

Memória de Arlindo Fragoso é homenageada na Bahia

Publicado

em

Sérgio Isensee

Série de ações marca 150 anos de nascimento do engenheiro baiano que,
entre outras realizações, fundou Instituto Politécnico e Academia de Letras

01Um baiano que tem em sua biografia a fundação do Instituto Politécnico, da Escola Polythecnica da Bahia – atual Escola Politécnica da UFBA – e da Academia de Letras da Bahia; os cargos de secretário-geral do primeiro governo do desenvolvimentista, e polêmico, José Joaquim Seabra, de conselheiro e intendente (prefeito) de Santo Amaro e diretor no Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas; a participação como ativista do movimento abolicionista e duas eleições como deputado federal, além da publicação de livros e artigos sobre economia, política e diversos textos de peças de teatro.

E tudo isso realizado entre o final do século XIX e o nascimento do século XX.

Este foi Arlindo Coelho Fragoso.

Para marcar os 150 anos de nascimento deste multifacetado filho de Santo Amaro da Purificação, o Instituto Politécnico da Bahia promove uma série de atividades (programação completa anexa) em homenagem a este pensador que ousou construir sonhos numa realidade hostil para impulsionar o desenvolvimento da Bahia.

As ações começam no dia 20 de março, às 17h30, na Escola Politécnica, com o lançamento de uma reedição de um livro de crônicas escritas por Fragoso, um prêmio de inovação que levará o nome dele e de uma palestra sobre o legado do engenheiro ministrada pelo professor e membro da Academia de Letras da Bahia, Guilherme Raddel. Ao longo do ano, vão ser realizados outros encontros para reviver a herança deixada pelo santamarense.

Quem foi Arlindo Coelho Fragoso
A memória de Arlindo Fragoso e seu legado é frágil, pouco conhecida entre os baianos. O engenheiro dá nome a uma pequena travessa na Ladeira dos Galés e tem um busto no espaço batizado em sua homenagem na Escola Politécnica, na Federação.

Nascido em Santo Amaro no dia 30 de outubro de 1865, Arlindo Fragoso iniciou os estudos ainda no Recôncavo Baiano, indo depois para Portugal, onde se destacou, tendo concluído os estudos no Colégio do Professor França, em Salvador. Seguiu para o Rio de Janeiro matriculando-se no anexo da Escola Politécnica, concluindo o curso de engenharia civil em 1885. Participou do movimento abolicionista, retornando a Salvador logo após a conclusão do curso.

Em 1888 ingressou na Escola Agrícola da Bahia, mais conhecida como Escola de São Bento das Lages, primeira instituição a diplomar engenheiros agrônomos no Brasil, onde assumiu a cadeira de Engenharia Rural. Críticas ao modelo da instituição levaram a sugestões de reformulação estrutural.

Entre 1888 e 1889 foi conselheiro municipal em Santo Amaro, função que corresponde aos atuais vereadores. Já no período republicano, foi intendente no município, com atividades equivalentes aos atuais prefeitos, permanecendo entre 1889 e 1891. Neste período realizou intervenções importantes como a fundação da Biblioteca Pública de Santo Amaro.

No ano de 1892, Arlindo Fragoso foi convidado a ser secretário de Estado no governo de Rodrigues Lima e, três anos depois, cria a Secretaria da Agricultura, Viação, Indústria e Obras Públicas.

Em 12 de julho de 1896, ao lado de um conjunto de engenheiros, boa parte deles vindos da Escola Politécnica do Rio de Janeiro tendo participado da Escola Agrícola de São Bento das Lages, funda o IPB – Instituto Politécnico da Bahia. Em questão de meses, o grupo liderado por Arlindo Fragoso dá um segundo passo importante na consolidação do ensino da Engenharia no estado. Em 14 de março de 1897 funda a Escola Politécnica da Bahia.

Em paralelo, Arlindo Fragoso mantinha-se atuante nas atividades políticas. Foi indicado por Luiz Viana para deputado federal, mas teve o nome riscado da chapa oficial no governo Severino Vieira (1900-1904). Acompanhou Luiz Viana no rompimento político e passou a combater o governo no jornal de sua propriedade.

No Rio de Janeiro, construiu o Pavilhão da Bahia na Exposição do Centenário da Abertura dos Portos. Morando na então capital federal, recomeçou com J.J. Seabra o combate ao governo da Bahia.

O prestígio com a sociedade política levou Arlindo Fragoso a vários cargos públicos, entre eles o de secretário direto de Miguel Calmon quando, em 1907,  este ocupou o Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas nos governos Afonso Pena e Nilo Peçanha. Nesta posição, participou de projetos relevantes como a recuperação dos portos, a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e outras ferrovias pelo Brasil. Arlindo Fragoso foi diretor de uma área no Ministério responsável pela edição do Boletim, mesmo setor onde trabalhou Machado de Assis, fundador da Academia Brasileira de Letras.

Depois, entre 1912 e 1916 seria secretário geral do governo Seabra, tornando-se responsável pela realização de grandes obras na cidade de Salvador, como o novo traçado da Avenida Sete de Setembro e aterros na Cidade Baixa. Participou ainda da reconstrução do Palácio Rio Branco e da ampliação do Porto de Salvador. Sua atuação era semelhante a de um primeiro-ministro, responsável pela condução dos negócios do Estado. Assim, participava das intervenções urbanas, das atividades em áreas como educação, saúde, obras prediais e de engenharia. Cercou-se de artistas e arquitetos que deram novos ares à vida na cidade de Salvador.

A paixão pela Literatura levou Arlindo Fragoso a fundar em 7 de março de 1917 a Academia de Letras da Bahia. De tão envolvido com o processo, Fragoso não reservou para si nenhuma das 40 cadeiras. Com sua capacidade de agregar os nome mais importantes do Estado, sem rancores, convidou Severino Vieira, que havia feito uma dura perseguição política contra ele.

Assim, Bernardino José de Souza lidera o movimento para criar provisoriamente a cadeira de número 41 para Arlindo Fragoso, que desapareceria com a primeira morte de um dos titulares. Por ironia do destino, o engenheiro assumiria a cadeira de número 19, vaga com a morte de seu antigo perseguidor. A cadeira hoje tem como titular o historiador Cid Teixeira.

Pelo Partido Republicano Democrata, Fragoso foi eleito deputado federal em 1918 e reeleito em 1921.

Além dos livros O Espírito dos Outros e Notas Econômicas e Financeiras – com muitos pensamento válidos até hoje – há referencias inclusive sobre peças de teatro. Arlindo Fragoso casou-se com D. Jesuína  Guimarães Fragoso. Encerrando sua existência aos 60 anos a 7 de janeiro de 1926 deixou filhos e netos.

Programação:

Encontro: Arlindo Fragoso – Construtor de Futuros

20 de março de 2015, a partir das 17h30

Foyer do Espaço Cultural Arlindo Fragoso, na Escola Politécnica da UFBA
(Rua Professor Aristides Novis, 2 – Federação, Salvador-BA)

Lançamento do Prêmio de Inovação Arlindo Fragoso (pelo CREA-BA)

Palestra sobre legado de Arlindo Fragoso, ministrada pelo professor e membro da Academia de Letras da Bahia, Guilherme Raddel

Lançamento da reedição do livro “O Espírito dos Outros”, com crônicas de autoria de Arlindo Fragoso (pela Edufba)

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